Faixa Azul: Políticas públicas e seus resultados concretos

A importância da análise independente do que está dando certo, o que precisa ser melhorado e o que precisa evoluir. 

A promoção de iniciativas baseadas em evidências parte de uma análise criteriosa dos resultados positivos, desafios em aberto e oportunidades de melhorias. Os gestores precisam realizar diagnósticos completos para aprimorar estratégias, evitar desperdício de recursos e melhorar a vida dos cidadãos. Assim, para garantir eficiência e responsabilidade na gestão, faz-se necessário assegurar a assertividade e o acompanhamento das políticas públicas.

O processo precisa ser sustentado por práticas efetivas de transparência e monitoramento constante, possibilitando que as políticas sejam fundamentadas e voltadas para resultados concretos. Fundamentados nesses processos, o ambiente torna-se propício a uma gestão inovadora, na qual a sociedade sinta confiança.

 Da ideia à implementação: São Paulo e a Faixa Azul

Um exemplo a ser avaliado é a execução da “Faixa Azul” no Estado de São Paulo. A medida, criada em 2022 pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP), visa reduzir a incidência de acidentes fatais causados por motocicletas, assim como aumentar a segurança dos motociclistas no trânsito da capital paulista.

O projeto funciona como uma faixa preferencial para motos, a fim de organizar o tráfego de forma que garanta a boa convivência entre automóveis e motocicletas, tornando o trânsito de São Paulo mais pacífico e seguro. O exemplo serviu de inspiração para que outras cidades adotassem iniciativas semelhantes, como Salvador, Recife, Santo André, São Bernardo do Campo, além de Belém e Rio de Janeiro.

Estudos divulgados pela Prefeitura de São Paulo apontam a redução de 47,2% de acidentes com motos entre os anos de 2023 e 2024. Atualmente, a capital conta com 232,7 km de faixas distribuídas em 46 vias, uma medida que beneficia 500 mil motociclistas diariamente.

Entenda o contexto nacional dos acidentes de motos no Brasil

O país enfrenta uma epidemia de acidentes de trânsito. Segundo dados do Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao governo federal, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), as taxas de acidentes de motos cresceram 12,5%, representando 16,2 mortes a cada 100 mil habitantes no Brasil.

O problema vai além de São Paulo. No Piauí, os acidentes de motos representam mais da metade (69,4%) dos acidentes fatais no trânsito. O Estado é seguido por Ceará, Alagoas e Sergipe (59,5%, 58,4% e 57,8%, respectivamente). Dados do Atlas da Violência mostram, ainda, que ocorreram quase 13,5 mil mortes por acidentes de motocicletas.

Teoria e prática: resultados da Faixa Azul a partir de avaliações externas 

As análises externas são necessárias para que gestores e a sociedade possam adquirir uma visão mais realista sobre as políticas públicas implementadas e, principalmente, ajustar as expectativas de entrega e promover a transparência.

No caso da iniciativa “Faixa Azul”, percebe-se que a análise científica, aliada aos estudos na gestão pública, serve para testar hipóteses, expor limites e orientar melhorias. Para a implementação de políticas efetivas, é essencial realizar o acompanhamento por meio de avaliações contínuas.

Com base nesse acompanhamento, estudos de monitoramento independentes realizados pelo Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável, do Insper, mostram que os resultados oficiais sobre a “Faixa Azul” são pouco evidentes após sua implementação.

Apesar dos dados de redução de acidentes apresentados pela Prefeitura de São Paulo, análises técnicas avaliam que não existem evidências de que a “Faixa Azul”, isoladamente, tenha reduzido os acidentes de motocicleta. Isso não implica que os resultados sejam inválidos ou que o projeto não tenha potencial, mas reforça que políticas públicas precisam estar integradas a medidas complementares, como, por exemplo:

  • Fiscalização rigorosa;
  • Controle de velocidade;
  • Campanhas educativas; e
  • Melhorias na infraestrutura urbana.

Confira os destaques da pesquisa do Insper:

A “Avaliação do impacto da Faixa Azul nos sinistros de trânsito em São Paulo”, do Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável (Insper), buscou analisar microdados públicos do Infosiga-SP. Como base de pesquisa, foi realizada uma comparação entre vias com a “Faixa Azul” e vias similares sem a implementação da iniciativa.

Os resultados mostram que não há evidências de que a política reduza efetivamente os acidentes de motocicletas nas vias e, na possibilidade de redução, não há dados que apresentem impactos significativos. Portanto, os estudos reforçam que análises científicas são essenciais para corroborar a eficácia da medida e corrigir rumos.

A pesquisa propõe, ainda, que, para a medida atingir os parâmetros desejados, sejam realizados monitoramento e avaliação capazes de mensurar o impacto social, além de ações complementares, como redução de velocidades, fiscalização sistemática e melhorias na infraestrutura das vias.

A avaliação contínua de políticas públicas é primordial para que os objetivos sejam alcançados. À luz da iniciativa “Faixa Azul”, percebe-se que a gestão pública deve ser alinhada a estudos e monitoramento que permitam identificar limitações, corrigir erros e ajustar estratégias.

O processo oferece subsídios para decisões fundamentadas, com a integração de medidas complementares que potencializam os resultados, fazendo com que iniciativas como a “Faixa Azul” gerem impactos concretos e positivos para a sociedade. 

Referências

  1. Faixa azul para motos em SP reduz pela metade mortes de motociclistas, aponta CET – G1
  2. Levantamento aponta que trafegar na faixa azul é até 20 vezes mais seguro – Prefeitura de SP
  3. Perguntas e Respostas sobre Faixa Azul – CET-SP
  4. Taxa de mortes em acidentes de motocicletas cresce 12,5% no país – Agência Brasil
  5. Avaliação do impacto da Faixa Azul nos sinistros de trânsito em São Paulo – Insper
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Auditor Federal de carreira e professor universitário, Erick é economista, mestre em Economia do Setor Público pela UnB, doutor em Administração Pública pela FGV/EBAPE e possui MBA em Concessões e PPPs pela FESPSP/ISE. É também Líder MLG (Master em Liderança e Gestão Pública – CLP/Harvard).