foto: GEORGES GOBET / AFP

Primeiro-Ministro da França Entrega Carta de Renúncia a Macron

Em um episódio que aprofunda a instabilidade política francesa, o primeiro-ministro François Bayrou entregou oficialmente sua carta de renúncia ao presidente Emmanuel Macron nesta terça-feira (9). A decisão segue-se à derrota sofrida no Parlamento francês na véspera, quando os deputados rejeitaram a proposta orçamentária do governo para 2026, provocando a queda do quarto premiê de Macron em menos de dois anos.

Bayrou chegou ao Palácio Eliseu, residência oficial do presidente francês, por volta das 8h30 (horário de Brasília), deixando o local aproximadamente uma hora depois. O governo Macron confirmou a renúncia através de comunicado oficial publicado em seu site, afirmando que nomeará um sucessor “nos próximos dias”.

Contexto da Crise Orçamentária e Política
A queda de Bayrou está diretamente ligada à sua incapacidade de aprovar o orçamento de 2026, que previa cortes de 44 bilhões de euros nas finanças públicas francesas. Seu antecessor, Michel Barnier, havia caído em meados de 2024 pelo mesmo motivo, evidenciando a dificuldade crônica do governo em conseguir apoio parlamentar para suas medidas de austeridade.

A França enfrenta uma grave situação fiscal: a dívida pública atingiu 113,9% do PIB, enquanto o déficit do ano passado quase dobrou o limite de 3% estabelecido pela União Europeia. Este cenário econômico delicado ocorre em meio a um Parlamento profundamente dividido e polarizado, onde nenhum bloco detém maioria suficiente para governar com estabilidade.

Pressão sobre Macron e Possíveis Cenários
O presidente Macron enfrenta pressão crescente da oposição, que exige sua renúncia, a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas. Entre os possíveis sucessores de Bayrou estão nomes como Eric Lombard (ministro das Finanças), Bernard Cazeneuve (ex-primeiro-ministro socialista), Pierre Moscovici (chefe do Tribunal de Contas) e Sébastien Lecornu (ministro da Defesa).

Qualquer que seja o escolhido, herdará o mesmo desafio intransponível: equilibrar as finanças francesas e aprovar um orçamento em um Parlamento fragmentado, onde a oposição de esquerda considera os cortes “austeridade excessiva” e a extrema-direita os classifica como “injustos”.

Manifestações e Tensão Social
A queda do governo foi recebida com comemorações em várias cidades francesas, enquanto movimentos sociais se organizam para protestos massivos. O movimento “Bloquons Tout” (“Vamos bloquear tudo”), que ganhou força nas redes sociais, convocou manifestações para 10 de setembro, seguido por greves e protestos sindicais marcados para 18 de setembro.

A crise política francesa ocorre em momento crítico para a Europa, que enfrenta desafios geopolíticos e econômicos significativos. A turbulência interna na segunda maior economia da zona do euro preocupa observadores internacionais, que temem impactos mais amplos na estabilidade europeia e na capacidade de resposta continental aos múltiplos desafios globais.