Com Rubio, Brasil mantém discrição em negociações com EUA

A diplomacia brasileira adotou postura de discrição em relação à designação do secretário de Estado americano, Marco Rubio, como principal negociador nas tratativas entre Brasil e Estados Unidos. Após o telefonema entre os presidentes Lula e Trump, o governo brasileiro defende a necessidade de evitar conclusões precipitadas sobre a postura do representante americano, que no passado fez duras críticas ao ministro Alexandre de Moraes e a governos de esquerda na América Latina.

A designação de Rubio é analisada com cautela por aliados do governo Lula. De origem cubana, o secretário de Estado é visto como integrante da “ala ideológica” do governo Trump e já liderou pessoalmente as sanções contra o Brasil, incluindo a revogação de vistos de autoridades brasileiras em represália ao Programa Mais Médicos. No entanto, avalia-se no Itamaraty que Rubio estará sob as ordens diretas de Trump e deve atuar como um “profissional” nas negociações.

Por parte do governo brasileiro, as tratativas seguem nas mãos do vice-presidente Geraldo Alckmin e dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores). Este último será o principal articulador junto a Rubio, mantendo a estratégia de abrir o máximo de diálogo possível entre as equipes técnicas. A nomeação de Rubio indica que a diplomacia americana focará em questões geopolíticas, enquanto as discussões comerciais ficarão em segundo plano.

Especialistas em relações internacionais apontam que a escolha de Rubio representa “o caminho mais difícil” para o Brasil. Brian Winter, editor da revista Americas Quarterly, destacou que o secretário de Estado “é um cético de longa data em relação a Lula e pode insistir em demandas relacionadas à Venezuela, China e muito mais”. Enquanto isso, aliados de Bolsonaro comemoraram a designação, vendo nela uma garantia de que as demandas por “normalidade democrática” serão mantidas.