O Brasil registrou em agosto a primeira deflação em dois anos, segundo dados divulgados pelo IBGE. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, apresentou queda de 0,14% no mês, resultado mais intenso desde setembro de 2022, quando havia recuado 0,37%. Em julho de 2023, a última vez que o índice havia ficado negativo, a retração foi de 0,07%.
Para o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Fiesp, Rafael Cervone, a deflação abre espaço para que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduza a taxa básica de juros. Atualmente em 15% ao ano, a Selic é considerada pelo setor produtivo “absolutamente insustentável”. Segundo Cervone, o dado sinaliza que há margem para um ciclo de cortes sem comprometer a estabilidade econômica.
O dirigente ressalta, no entanto, que a política fiscal também precisa ser ajustada. O déficit público, afirmou, gera pressão sobre os preços, limita a capacidade de investimento da União, estados e municípios e aumenta a incerteza quanto ao futuro. “É preciso calibrar de forma equilibrada as políticas monetária e fiscal para garantir crescimento robusto do PIB”, declarou.
De acordo com Cervone, os juros elevados impactam diretamente a indústria, tanto nos investimentos de médio e longo prazos quanto no capital de giro das empresas. Máquinas, equipamentos, inovação e modernização tecnológica exigem financiamentos que se tornam proibitivos em um ambiente de Selic alta, o que compromete a expansão da capacidade produtiva e a atualização do parque industrial.
O crédito de curto prazo, acrescentou, também encarece a operação das companhias, afetando manutenção de estoques, aquisição de insumos e pagamento de salários. Esse cenário é ainda mais severo para pequenas e médias indústrias, que dependem fortemente de crédito para manter as atividades. Como consequência, pode haver queda na produção, redução de postos de trabalho e até fechamento de unidades.
Cervone reforçou que a queda do IPCA-15 deve ser vista como um sinal de que o momento exige estímulos à economia. “Essa é a deixa para reduzir os juros e, ao mesmo tempo, enfrentar os desequilíbrios fiscais que travam o crescimento”, concluiu.
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