Economist compara julgamento de Bolsonaro ao caso Trump nos EUA

A revista britânica The Economist destacou, em sua capa desta quinta-feira (28), o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que vai analisar, a partir da próxima terça-feira (2), a suposta participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma trama golpista após as eleições de 2022.

Na edição, Bolsonaro aparece retratado como o “Viking do Capitólio” — Jacob Anthony Chansley, um dos símbolos da invasão ao Congresso dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021. O título da capa, “O que o Brasil pode ensinar à América”, reforça a comparação entre os dois países.

Segundo a publicação, o processo contra o ex-mandatário representa a “recuperação do Brasil após a febre populista”, em contraste com outros países em que líderes de perfil similar ainda estão em ascensão, como a Polônia e até mesmo o Reino Unido.

Comparação com os EUA

O Economist aponta que, enquanto os Estados Unidos caminham para maior autoritarismo e instabilidade política sob a influência de Donald Trump, o Brasil tenta fortalecer sua democracia mesmo enfrentando divisões internas e pressões externas.

As memórias da ditadura militar (1964-1985) e a percepção crescente de que Bolsonaro tramou um golpe para se manter no poder seriam fatores que ajudam a explicar a diferença de postura brasileira.

STF como guardião e alvo de críticas

Apesar de enaltecer o papel do Supremo como “guardiã da democracia brasileira”, a revista destaca o paradoxo de que controlar a atuação da Corte é uma tarefa-chave. Segundo a análise, o tribunal acumula funções que o tornam, em alguns casos, “vítima, promotor e juiz” ao mesmo tempo.

Com mais de 114 mil decisões apenas em 2024, muitas delas monocráticas, há consenso de que o excesso de poder concentrado em juízes não eleitos pode enfraquecer a política tanto quanto protegê-la de ameaças golpistas.

Desafios e futuro político

O periódico ressalta que eventuais reformas no STF e na Constituição enfrentam resistência, já que demandariam que grupos políticos abrissem mão de privilégios em prol do bem comum — cenário improvável em um país profundamente dividido.

Ainda assim, a revista avalia que, diferentemente dos EUA, políticos brasileiros de diferentes espectros parecem dispostos a “jogar conforme as regras” e buscar avanços institucionais por meio de reformas.

“Essas são as características da maturidade política”, conclui a publicação, afirmando que, ao menos temporariamente, o papel de “adulto democrático do hemisfério ocidental” se deslocou para o sul.