Operação na Faria Lima mira 42 empresas em esquema do PCC que movimentou bilhões no setor de combustíveis

Uma megaoperação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) foi deflagrada nesta quinta-feira (28) e atingiu 42 empresas situadas na Avenida Faria Lima, principal centro financeiro do país. A investigação aponta a participação de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) em um esquema bilionário de fraudes envolvendo o setor de combustíveis, instituições financeiras e gestoras de investimentos.

Entre as companhias alvo estão a Reag Investimentos, a Trustee DTVM e o Banco Genial, todas com sede na região. Em nota, a Reag afirmou que “segue colaborando integralmente com as autoridades competentes” e se colocou à disposição para prestar novos esclarecimentos.

Esquema bilionário do PCC

Segundo o MPSP, o esquema teria gerado R$ 7,6 bilhões em sonegação de tributos, além de fraudes que impactaram diretamente consumidores e o mercado de combustíveis. Estima-se que 1.000 postos vinculados à organização movimentaram cerca de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024. Apenas uma fintech que funcionava como banco paralelo do grupo movimentou sozinha R$ 46 bilhões não rastreáveis no mesmo período.

O PCC teria usado uma rede de empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs para ocultar os beneficiários finais e reinvestir os lucros ilícitos. Parte dos recursos foi direcionada para a compra de usinas sucroalcooleiras, distribuidoras e transportadoras de combustíveis.

Como funcionava a fraude

Um dos principais eixos do esquema era a importação irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR). O produto não chegava aos destinatários oficiais e era desviado de forma clandestina, com notas fiscais falsas e transporte em condições inseguras. Altamente inflamável e tóxico, o metanol era usado na adulteração de combustíveis, prática que gerava ganhos milionários ao grupo e prejuízos diretos aos consumidores.

Foram identificadas fraudes qualitativas, quando o combustível era adulterado e não seguia as especificações da ANP, e fraudes quantitativas, em que o motorista pagava por volumes maiores do que recebia. Houve ainda relatos de proprietários de postos ameaçados de morte após venderem seus negócios sem receber os valores devidos.

Bloqueio de bens

Além das medidas criminais, o CIRA/SP (Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado de São Paulo) anunciou que buscará na Justiça o bloqueio de bens para ressarcir os cofres públicos. O valor atualizado da dívida tributária é estimado em R$ 7,6 bilhões.