foto: REUTERS/Christian Hartmann

Crise Política na França se Aprofunda com Queda do Quarto Primeiro-Ministro em Dois Anos

O primeiro-ministro francês François Bayrou tornou-se a mais recente vítima da instabilidade política que assola a França, ao perder um crucial voto de confiança no Parlamento nesta segunda-feira (8). Com 364 votos contra sua permanência e apenas 194 a favor, o líder centrista anunciou que apresentará sua renúncia formal ao presidente Emmanuel Macron na terça-feira (9), mergulhando a segunda maior economia da zona do euro em uma paralisia política sem precedentes.

A queda de Bayrou, quarto primeiro-ministro em menos de dois anos, ocorreu pelo mesmo motivo que derrubou seu antecessor Michel Barnier: a incapacidade de aprovar o orçamento do governo para 2026. Seu plano de cortes de € 44 bilhões (aproximadamente R$ 280,8 bilhões) foi rejeitado tanto pela esquerda, que o classificou como “austeridade excessiva”, quanto pela extrema-direita, que o considerou “injusto”.

Cenário de Crise Institucional e Econômica
O fracasso na aprovação orçamentária ocorre em um momento crítico para as finanças francesas. O país enfrenta pressão crescente para corrigir suas contas públicas após registrar, no ano passado, um déficit quase o dobro do limite de 3% do PIB estabelecido pela União Europeia, enquanto a dívida pública atingiu 113,9% do PIB.

Em discurso emocionado antes da votação, Bayrou advertiu: “Vocês têm o poder de derrubar o governo, mas não têm o poder de apagar a realidade. A questão vital onde nossa própria sobrevivência está em jogo é controlar nossos gastos”. Suas palavras ecoaram em vão diante de um Parlamento profundamente dividido.

Reações e Críticas da Oposição
A líder da extrema-direita Marine Le Pen não poupou críticas: “É um desastre para o povo francês. As consequências afetarão as gerações futuras”. Do outro espectro político, Boris Vallaud, presidente do Partido Socialista, atacou diretamente Macron: “Só há uma pessoa responsável pela crise: o presidente da república e seus seguidores cegos”.

A crise ocorre em momento delicado para a Europa, que busca unidade frente à guerra na Ucrânia, à ascendência chinesa e às tensões comerciais com os Estados Unidos. A turbulência política francesa ameaça não apenas a estabilidade interna, mas também a credibilidade do país nos mercados internacionais, com riscos concretos de novos rebaixamentos de rating.

Possíveis Cenários
Macron agora enfrenta opções complexas: dissolver o Parlamento (como fez no ano passado), tentar formar uma nova coalizão minoritária ou nomear um governo técnico. Especialistas alertam que novas eleições poderiam resultar em “maioria absoluta do partido de extrema-direita”, conforme afirmou o constitucionalista Benjamin Morel ao jornal Libération.

O Palácio Eliseu anunciou que Macron nomeará um sucessor para Bayrou “nos próximos dias”, mas qualquer candidato enfrentará o mesmo desafio intransponível: construir consenso em um Parlamento fragmentado onde nenhum bloco detém maioria. A crise expõe a profunda divisão política francesa e seus reflexos na capacidade de governança do país.